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Após ter lavado sua honra com o sangue de sua filha, o pai de Samia Sarwar organizou uma campanha contra as advogadas que ousaram defendê-la. Fez questão de processá-las, acusando-as de verdadeiras responsáveis pela morte de sua filha...
- (01/05/2001)
Samia Sarwar foi assassinada no dia 6 de abril de 1999. Com 29 anos de idade e descendente de uma família rica, de Peshawar, Samia, que foi casada contra sua vontade com um primo drogado e violento com o qual teve dois filhos, decidiu divorciar-se e refazer sua vida. Seu pai, que é presidente da Câmara de Comércio de Peshawar, e sua mãe, que exerce a profissão de médica, nem querem ouvir falar do assunto. Sem levar isso em conta, ela se dirige a duas advogadas famosas de Lahore, Hina Jilani e Asma Jahangir. Passou a morar em um alojamento com suas crianças. Pouco depois, seus pais pediram para encontrá-la. Temendo morrer, Samia recusa-se. Sua mãe insiste. Finalmente, foi combinado um encontro no escritório de Hina Jilani. Mas somente com a mãe.
Na hora marcada, sua mãe chega apoiada no braço de seu chofer, sem a ajuda do qual, diz ela, já não consegue se locomover. Mal acabaram de entrar, o homem sacou uma arma e matou Samia com duas balas na cabeça. Em seguida, atirou na advogada e errou por pouco. Em sua fuga, o chofer, a mãe e um tio de Samia, que esperava do lado de fora, pegaram uma empregada como refém. O chofer foi morto pela polícia. A mãe e seu irmão juntaram-se ao pai, que esperava no hotel.
Dois anos depois, o processo foi praticamente arquivado. Os pais jamais se preocuparam. O pai — disse-nos Asma Jahangir — continua dirigindo a Câmara de Comércio de Peshawar e faz parte de várias comissões oficiais. Após ter lavado sua honra com o sangue de sua filha, organizou, com mullahs e chefes tribais, uma campanha virulenta contra as duas advogadas. Ele próprio fez queixa contra elas, acusando-as de verdadeiras responsáveis pela morte de sua filha... A questão suscitou uma moção do Senado condenando o costume do "crime de honra" e solicitando a prisão dos culpados. A maioria dos senadores votou contra...
Em seu escritório de Lahore, protegida por vigilantes armados, Asma Jahangir mostra-nos a correspondência de ódio e com ameaças que continua a receber. O corredor de seu escritório fica cheio de mulheres que os maus tratos e o desespero conduziram para lá. "As ameaças contra mim não são grande coisa se comparadas ao destino dessas mulheres. Elas correm o risco de morrer porque querem mudar de vida, enquanto os verdadeiros criminosos escapam à lei", diz essa mulher de aparência frágil.
(Trad. Wanda Caldeira Brant)