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A partir de 1o de janeiro de 2002, sugere-se um “plebiscito espontâneo, maciço, pluri-diário, até a decisão final”: a eliminação de uma “moeda privatizada pelos eurocratas, os banqueiros centrais e o Banco Central Europeu”. Aguardemos
- (01/12/2001)
O livro de Bertrand Renouvin e Sylvie Fernoy1 começa lembrando as violentas altercações, 24 horas antes do desembarque na Normandia (6 de junho de 1944), entre De Gaulle, Churchill e Eisenhower, os dois últimos determinados em implantar na França libertada – bem como na Itália – uma administração militar “aliada” (Amgot) e, no lugar do franco, uma “moeda adicional”, impressa em Washington. Ambos os planos foram recusados pelo chefe da França Livre.
Para os autores, o euro, tão desprovido de legitimidade como os “falsos dólares” da época, está sendo levado a ter o mesmo destino: a rejeição popular. Analisando com habilidade a origem sagrada da moeda e sua função simbólica, dissecam a história da construção européia durante quase meio século, para mostrar que o euro, contrariamente ao dólar, e por falta de um poder europeu soberano (aliás, impensável na situação atual), não corresponde a nenhum dos critérios clássicos. Ao contrário, baseando-se em citações de numerosos autores liberais – que ficam felizes com isso – mostram que é uma arma poderosa de regressão social e democrática. A partir de 1o de janeiro de 2002, os autores aconselham um “plebiscito espontâneo, maciço, pluri-diário, até a decisão final”: a eliminação de uma “moeda privatizada pelos eurocratas, os banqueiros centrais e o Banco Central Europeu”. Aguarde a resposta em algumas semanas.
Henri Bourguinat, grande especialista em finanças internacionais, se reporta para além da implantação do euro fiduciário, ao questionar suas relações com a nota verde que, com recessão e terrorismo ou não, permanece obstinadamente “forte” 2 , pelo menos pelo tempo que Washington tiver decidido. Vêm, em seguida, análises detalhadas da dolarização – de direito ou de fato – de muitas economias, que o levam a uma reflexão sobre a idéia de uma moeda universal já prevista por Keynes, com o bancor. Mas essa moeda não seria simplesmente o dólar? É, de fato, um dos três cenários evocados pelo autor – que se abstém de optar –, sendo os dois outros a confirmação do atual binômio desigual dólar-euro e o terceiro, altamente improvável, o do surgimento do “um para um”: 1 dólar=1 euro=100 ienes (ou 1 iene “pesado”).
Favorável a uma certa forma de regulamentação global, Henri Bourguinat examina de passagem, não sem uma dose de simpatia, mas também com muito ceticismo, o impacto dos movimentos anti-globalização. Sobre a medida emblemática que é a taxa Tobin, constata que sua viabilidade técnica não apresenta problemas insuperáveis. Mas por que caricaturar aqueles que a preconizam, atribuindo-lhes, sem qualquer prova, a opinião de que seria uma panacéia, quando para eles se trata, antes de tudo, de um procedimento político de redirecionamento da economia e das finanças a serviço do humano? Por fim, é exatamente essa consideração da importância da dimensão política – demonstrada pelos Estados Unidos depois de 11 de setembro – que falta num livro evidentemente erudito, mas cuja maior parte permanece acessível a um público não especializado.
(Trad.: Regina Salgado Campos)
1 - Henri Bourguinat, L’euro ao défi du dollar, ed. Economica, Paris,2001,170 p., 93 francos (15 euros)