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Os “doze revolucionários sem revolução possível”, ressuscitados por Paco Ignacio Taïbo, levaram uma vida louca, e muitas vezes trágica, não recuando diante da violência em seu desejo místico de mudar o mundo
- (01/12/2001)
A lista dos santos revolucionários é incompleta e, amiúde, injusta. Figuras essenciais são esquecidas enquanto outras são exaltadas. Pelos cânones da ortodoxia marxista, não se pode dizer que as personagens reunidas por Paco Ignacio Taïbo1 , por caminhos em que se cruzam o desejo de justiça, o absurdo kafkiano e a tragédia dostoievskiana, mereçam um lugar no coro celestial. Esses “doze revolucionários sem revolução possível”, ressuscitados por ele, levaram uma vida louca, e muitas vezes trágica, não recuando diante da violência em seu desejo místico de mudar o mundo. Historiador e romancista, Taïbo descobriu, nos meandros da história, esses doze Justos excluídos dos anais oficiais. E decidiu contar sua vida.
Foram necessários anos de pesquisa para descobrir os fatos e proezas desses desconhecidos que não viveram senão para levar até o fim seu sonho de salvar a humanidade. Anarquistas e sindicalistas, às vezes amantes selvagens, para quem a militância não exclui o romantismo e a aventura é cercada por uma auréola de nostalgia. Na verdade, Taïbo entrega-se ao elogio da derrota. A derrota de Sebastián San Vicente, apelidado “O anjo negro exterminador”. No País Basco, onde nasceu, luta, armado de um revólver, contra o desemprego e contra os latifundiários. Depois, exilado no México, cria, em 1921, a CGT mexicana e morre, em 1938, na Espanha, combatendo perto de Bilbao como miliciano num batalhão do sindicato anarquista CNT.
Cruza-se com a marxista bolchevique ortodoxa Larissa Reisner, originária de uma família burguesa polonesa do século XIX. Editora de uma revista literária, poetisa, ela entra para o Exército Vermelho para lutar “ao lado desses homens que superam seu medo porque estão em via de construir algo inimaginável”. Que dizer também de Max Hölz, o Robin Hood do comunismo alemão? Com a cabeça posta a prêmio, ele muda o rosto, se disfarça e torna-se “um fantasma diante de centenas de olhos que simulam a cegueira”.
Descobrimos também o velho Librado Rivera, anarquista mexicano que volta para sua terra com 60 anos, depois de ter passado duas décadas em prisões norte-americanas, e passa a editar um jornal de propaganda com uma tiragem de 5 mil exemplares. Preso e torturado, jamais se dobraria. Ou então o chinês P’eng P’ai, “o homem que inventou o maoísmo e a revolução proletária nascida no campo”. Descendente de uma família abastada e traidor de sua classe, foi expulso duas vezes da História: primeiro, da história tradicional de sua casta; depois, da história da revolução camponesa na China, atribuída exclusivamente, e de modo injusto, ao Grande Timoneiro.
Chega-se à vida agitada do anarquista espanhol Buenaventura Durruti. Depois de algumas aventuras rocambolescas na América Latina, ele lidera a insurreição de Barcelona contra as tropas de Franco e morre na frente de batalha de Madri, de modo misterioso, talvez assassinado por seus próprios camaradas que queria arrastar para um combate suicida contra o inimigo fascista já vitorioso. Se essas histórias têm o sabor do fracasso, o talento do contador é fascinante. Taïbo teve o cuidado de diversificar o prazer, apresentando cada história de uma maneira diferente. Num estilo simples, direto, as descrições - relatadas ou recriadas - ajustam-se naturalmente ao ritmo dos encontros, das descrições. Às vezes, imita outros escritores, como Norman Mailer. Como bom romancista, utiliza vários tipos de técnica - monólogos, diários íntimos, autobiografias fictícias - para nos apresentar doze homens e mulheres animados por uma necessidade compulsiva de lutar contra a opressão.
(Trad.: Iraci D. Poleti)
1 - Archanges, de Paco Ignacio Taibo II, traduzido do espanhol por Caroline Lepage, ed. Métailié, Paris, 2001, 340 páginas, 127,90 F.