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O livro é apresentado como uma pesquisa, a partir de um fato real. O fato refere-se a Rafael Sánchez Mazas, fundador, com José Antonio Primo de Rivera, da Falange (partido fascista espanhol) e pai do grande romancista Rafael Sánchez Ferlosio
- (01/01/2002)
É um livro muito procurado. Publicado em 2001, na Espanha, já foi reeditado dez vezes e está sendo traduzido em cerca de vinte países. Classificado como “romance” e escrito na primeira pessoa, o texto mistura, com felicidade, diversos gêneros. Seria uma narrativa histórica, como afirma o autor no início do livro? Ou um romance de não-ficção, como o chama Truman Capote? Ou um ensaio? Seria uma reportagem romanceada?
É apresentado como uma pesquisa, meio jornalística, meio policial, a partir de um fato real. O fato refere-se a Rafael Sánchez Mazas, fundador, com José Antonio Primo de Rivera, da Falange (partido fascista espanhol) e pai do grande romancista Rafael Sánchez Ferlosio (autor, inclusive, de El Jarama), um progressista.
A história é a seguinte: pedem a um jornalista (o autor do livro) uma matéria sobre a morte, em Collioure, do poeta republicano Antonio Machado, em 1939. Javier Cercas observa que nas mesmas datas, do outro lado da fronteira, aconteceu um fato talvez compensatório: Rafael Sánchez Mazas, um dos responsáveis intelectuais pela guerra civil espanhola – e, por conseqüência, também pela morte do poeta – seria fuzilado, na Catalunha, por tropas republicanas que fugiam para a França. Na frente do pelotão de execução, Sanchez Mazas conseguiu escapar. Um soldado republicano o descobriu, escondido num matagal, e apontou o fuzil para ele. Mas, ao invés de atirar, gritou para seu comandante: “Não tem ninguém aqui!”, sem tirar os olhos do fugitivo, que teria a vida salva...
Reconstituindo os fatos, Javier Cercas percebeu que esse miliciano poderia contribuir com algumas peças para o quebra-cabeça da guerra da Espanha. Saiu em busca do soldado misterioso e, finalmente, o achou num asilo para idosos, em Dijon.
As últimas páginas, absolutamente magníficas, relatam a última entrevista desta pesquisa: o velho se recusa a encarnar sozinho a nobreza de todos seus companheiros anônimos e desaparecidos (os verdadeiros heróis já morreram e os atos de bravura não se contam) e relata suas próprias lembranças da guerra, profundamente dolorosas e bem distantes da história oficial. Mas essas últimas palavras são inaudíveis e o enigma não será totalmente desvendado.
Redigido numa linguagem cativante, Soldados de Salamina1 parece estar sendo escrito sob nossos olhos e lê-se com paixão. Termina com uma homenagem pujante dos filhos para os pais, em uma magnífica lição de generosidade.
(Trad.: David Catasiner)
1 - Soldados de Salamina, de Javier Cercas, ed. Tusquets, Barcelona, 2001.