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Fabricante exclusivo dos ’software’ que permitiam a análise das seqüências de DNA, a Applied Biosystems teve seu programa, codificado, quebrado pelos próprios pesquisadores envolvidos no projeto. E foi obrigada a jogar a toalha...
- (01/12/2002)
Os seqüenciadores modernos analisam em paralelo 96 amostras de DNA, até oito vezes por dia – e os maiores laboratórios fazem trabalhar uma centena deles ao mesmo tempo. Mas, no início, as máquinas aceitavam apenas 24 amostras e cada ciclo durava pelo menos 14 horas. Único fabricante, a Applied Biosystems (ABI) pretendia, então, deter o controle do módulo do programa de análise de dados inserido na máquina.
Ora, se os seqüenciadores fossem funcionais, era evidente que devíamos controlar o programa. Na realidade, para terminar propriamente a seqüência, era necessário um acesso prático aos dados brutos, a fim de poder avaliar sua qualidade passo a passo. O sistema de exposição que propunha o programa da ABI não nos satisfazia e tornava mais lento nosso trabalho. Parecia inaceitável dependermos de uma empresa privada para manipular e reunir os dados que produzíamos. A ABI até tinha a pretensão de controlar a análise da seqüência... Eu estava obcecado com a idéia de que era preciso chegar à seqüência o mais rápido possível; a melhor maneira de fazer avançar a ciência seria fazer as máquinas funcionarem cada vez mais rápido – e a um custo cada vez mais baixo – e extrair o máximo de dados para que os cientistas do mundo inteiro pudessem começar a interpretá-los.
Num domingo de verão, sentado na grama do jardim, cercado de folhas saídas da impressora, me pus a decifrar os arquivos da ABI que continham os vestígios de nossas experiências. Os arquivos não estavam deliberadamente codificados; eram simplesmente construídos num formato tipo árvore de Natal, que bastava reconstituir ligando os diferentes elementos uns aos outros. Alguns dias mais tarde, meus colegas e eu havíamos escrito um novo programa de visualização dos vestígios e decifrado o resto dos arquivos da ABI, o que nos dava total liberdade para desenhar nossos sistemas de visualização e de análise. Nossa produtividade foi transformada.
A ABI não viu esta iniciativa com bons olhos; negociávamos uma chave que nos permitiria destravar os arquivos, mas era óbvio que esse acesso ficaria sob seu controle. Permanecia, no entanto, o risco de que ela escolhesse um novo método de codificação que não pudéssemos decifrar. Mas a ABI concluiu que não tinha outra escolha senão conservar formatos públicos. Pouco tempo depois, nos tornaríamos seu maior cliente.
Este episódio foi a primeira de nossas batalhas pelo controle da informação, um tira-gosto das lutas de envergadura bem maior que logo se desenrolariam em torno do genoma humano.
(Trad.: Fabio de Castro)