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Para os “analistas” da grande imprensa, os professores em greve contra as reformas neoliberais pretendidas pelo governo francês são “descerebrados” e seu movimento, uma atitude “revanchista e irracional” que defende propostas “irreais”
- (01/09/2003)
Contestar o desmante lamento do Estado social remeteria à psiquiatria. Já em dezembro de 1995, o jornalista François de Closets se alarmava com uma “onda esquizofrênica” por parte dos manifestantes, enquanto, na TF1, Gérard Carreyrou comentava “um movimento em que os fantasmas e o irracional confundem com freqüência a realidade”.
Oito anos depois, quase nada mudou. Para Nicolas Beytout, diretor de Echos e comentarista da Europe 1, certas reivindicações provêm da fantasmagoria, como esta “posição totalmente irreal: 37,5 anos para todos, coisa em que ninguém acredita” (14 de maio). Stéphane Paoli explora na France Inter as razões de uma recusa: “Que povo somos nós que diz ‘sim, as reformas são necessárias’, que aceita seus princípios, mas que rejeita sua realidade?” (12 de maio). “Os franceses adoram os reformistas, na condição de que eles não passem à ação”, acrescenta Gérard Dupuy no jornal Libération (12 de maio).
O editorialista do Courrier Picard cria por sua vez, com zombaria, uma “SARS, Síndrome da Aposentadoria dos Segurados Sociais” (13 de maio), enquanto Alain Duhamel ausculta, mais uma vez, uma França “alérgica às reformas” (RTL, 15 de maio). No canal France 5, o cientista político Stéphane Rozès menciona “uma esquizofrenia nas pessoas” (13 de maio), contra o economista liberal Christian Saint-Etienne, preocupado com uma “greve pré-racional”. “Atitude revanchista e irracional”, indica a revista Marianne (16 de junho) num artigo sobre “as razões da desrazão” dos professores em greve.
Denis Jeambar, diretor do semanário L’Express, ficou muito irritado: “Educadores descerebrados cometem um crime pedagógico e destroem um livro sob o pretexto de que seu ministro o escreveu: nem Ray Bradbury, em Fahrenheit 451/i< e seus autos-da-fé, o poderia ter imaginado na França de 2003” (22 de maio). Se “a França está doente da cabeça”, acrescentaria, “cabe à cabeça da França curá-la” (5 de junho). Um mês antes de homenagear o ministro do Interior pela “pacificação de uma rebelião educacional” (Le Nouvel Observateur, 26 de junho) Jacques Julliard acompanhava, à cabeceira, este “corpo psicótico em que todos – professores, alunos e pais – são esfolados vivos, organismos nas garras da angústia, dos medos coletivos e dos fantasmas” (22 de maio).
Também Joseph-Macé-Scaron, diretor de redação do Figaro magazine, sustenta uma hipótese psiquiátrica, ao analisar a greve como “uma crise de transe social”, uma “insurreição de massas arcaicas” típica da França, uma “nau de insensatos” sacudida por “convulsões que deixam perplexos nossos vizinhos estrangeiros” (24 de maio).
(Trad.: Fabio de Castro)