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Apesar dos números pujantes, a economia chinesa padece de uma falta generalizada de transparência que já causou vários escândalos e depende, em certa medida, da América de George W. Bush para manter seu crescimento
- (01/10/2004)
Em 2004, a China deverá ter uma progressão do PIB (Produto Interno Bruto) entre 8% e 9%. Tornou-se o primeiro país destinatário mundial dos investimentos diretos externos, que poderão alcançar, ainda em 2004, o patamar histórico dos 70 bilhões de dólares. Terceiro importador1 e quarto exportador do mundo, o país elevou o crescimento mundial.
Normalmente, fala-se dela como o “ateliê do mundo”, fabricante de produtos baratos. Ora, como revela Patrick Artus, responsável pela pesquisa econômica nos mercados de capital CDC-Ixis, “a China tornou-se um produtor competitivo e de qualidade em um número cada vez maior de indústrias: têxtil, de brinquedos, de aço, construção naval, mas também eletrônica, de eletrodomésticos, metalúrgica, de equipamentos e futuramente automobilística, espacial, de móveis. O crescimento da produção industrial é particularmente forte na área de informática e eletrônica, do aço e do automóvel2”.
A China é, portanto, responsável pela destruição de milhares de empregos no Ocidente? “É verdade que ela atrai os deslocamentos”, reconhece o economista norte-americano Jeremy Rifkin, para quem a economia chinesa toma os mesmos rumos que suas homólogas ocidentais. “Mas ela destrói também empregos industriais e ainda mais rapidamente do que qualquer outro país”, lembra ele. Entre 1995 e 2002, sua indústria perdeu 15 milhões de empregos, ou seja, 15% de sua mão-de-obra produtiva.
Além disso, sem minimizar o vigor da economia, diversos observadores expressam dúvidas sobre a confiabilidade das estatísticas oficiais. “O objetivo de crescimento fixado no nível central submete os governos locais a fortes pressões políticas. [Estas] levam a inúmeras falsificações (mais de 60 mil violações das regras estatísticas em 2001, segundo fontes oficiais) 3”, explica Nhu Nguyen Ngo, economista da BNP Paribas. De acordo com vários economistas, o crescimento do PIB teria sido superestimado entre 1997 e 2002, de maneira a desencorajar os investidores estrangeiros, e subestimado desde 2003, de maneira a confirmar a tese de uma desaceleração controlada da economia.
As indagações são também sobre a importância de créditos detidos pelos bancos locais – um problema que constitui uma séria ameaça para a estabilidade da economia. Pequim afirma que esses representam menos de 10% do conjunto dos créditos, enquanto nos bancos ocidentais essa cifra chega a 30% e até mesmo a mais de 50%.
Na verdade, “a falta de transparência generalizada continua a girar em torno da economia. Esse véu, estendido também para proteger diferentes formas de corrupção, constitui o calcanhar de Aquiles do sistema4 ”, explica o jornalista Michel de Grandi. Vários escândalos já desestabilizaram as Bolsas de Xangai e de Shenzen, principalmente o da seguradora China Life, cuja matriz reconheceu um buraco de 700 milhões de dólares em sua contabilidade. A revelação só se deu depois que os investidores subscreveram em massa títulos da seguradora... Prova de que a China está longe de ser protegida dos erros do capitalismo globalizado, um número crescente de sociedades nacionais são a partir de agora registradas nos paraísos fiscais como as ilhas Virgens ou as ilhas Caiman.
Outra questão abordada pelos economistas, principalmente anglo-saxões: a paridade entre o iuane e o dólar. Desde meados dos anos 1990, um dólar vale 8,28 iuanes. Para os Estados Unidos, essa paridade fixa defendida com ardor por Pequim é artificial, pois subvaloriza o iuane e, conseqüentemente, oferece uma melhor competitividade ao “made in China” em detrimento dos produtos norte-americanos. Para diversas personalidades políticas, inclusive George W. Bush, o déficit comercial entre os dois países (cerca de 125 bilhões de dólares em favor da China) viria essencialmente dessa subvalorização do iuane. E conseqüentemente, há pressões recorrentes sobre o governo chinês para que valorize sua moeda.
Esses gestos de Washington mascaram a incapacidade da economia norte-americana, para competir em alguns setores, com sua concorrente chinesa e sua tendência de viver acima de seus meios. Efetivamente, para financiar seu déficit externo, os Estados Unidos se endividam emitindo títulos que o banco central chinês e seus homólogos asiáticos compram. E, para fomentar o consumo interno, importam os produtos chineses baratos. Em última análise, a América de George W. Bush contribui também para manter o crescimento da economia do antigo império chinês...
(Trad.: Wanda Caldeira Brant)
1 - A China é o primeiro país importador de matérias-primas básicas, de soja, de algodão. Sua participação no comércio mundial está próxima dos 6%.
2 - La Chine et l’économie mondiale (A China e a economia mundial), Flash CDC, 28 de maio de 2004.
3 - Le cycle chinois: entre surchauffe et surcapacités (O ciclo chinês: entre o superaquecimento da demanda e a superprodução), Conjoncture BNP Paribas, abril-maio de 2004.
3 - La Chine risque d’être fragilisée par son opacité financière (A China corre o risco de ser fragilizada por sua opacidade financeira), Les Echos, 8 de junho de 2004.