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Economia em crise, tensões sociais agravadas pelos efeitos da globalização e ameaça nuclear provocada pelo endurecimento dos Estados Unidos em relação ao regime norte-coreano jogam os sul-coreanos em um contexto perigoso
- (01/07/2005)
O sentimento que vigora, quando se discute na Coréia do Sul com os responsáveis políticos e sindicais, é o pessimismo. As tensões com os Estados Unidos não param de agravar-se em relação à Coréia do Norte. As relações estão igualmente tensas com o Japão, pois os livros escolares nipônicos persistem em minimizar as crueldades cometidas contra os coreanos durante a ocupação japonesa (1905-1945); e também em virtude da questão territorial que opõe os dois países quanto às ilhas Dokdo, reivindicadas tanto por um quanto pelo outro. Portanto, Seul se opõe à ambição diplomática de Tóquio: ter um assento permanente no futuro Conselho de Segurança, após a reforma da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro. Além disso, a economia está mal. Apesar da impressão de dinamismo que sente o visitante ocidental diante do espetacular sucesso da Coréia do Sul - um dos poucos países do planeta que conseguiu, em algumas décadas, sair do Terceiro Mundo e atingir o nível das nações mais desenvolvidas -, o crescimento perde fôlego. O país, que continua a terceira economia da Ásia, atrás de Japão e China, sofre, ao mesmo tempo, de uma queda do consumo e de uma desaceleração de suas exportações.
"Em um prazo relativamente curto a Coréia do Sul passou do subdesenvolvimento a uma industrialização muito avançada. Atualmente, graças também às lutas sociais realizadas desde o restabelecimento da democracia em 1987, nosso nível de vida é parecido com o da média dos Estados da União Européia. Os salários aumentaram muito. Éramos um país de mão-de-obra barata. Não é mais assim. Conseqüência: sofremos com grande impacto os efeitos da globalização. Nossos grandes industriais, os chaebols como Samsung, Hyundai, Daewoo ou LG, que foram as pontas de lança de nosso sucesso econômico, se deslocalizam de modo massivo. Ademais, instalam suas fábricas muito próximo, em nossos vizinhos chineses!", explica em seu escritório da Assembléia Nacional Sr. Joon-Beom Bae, diretor das relações internacionais do Partido Democrático do Trabalho (DLP), O resultado disso é uma degradação das condições de trabalho. Na sede do sindicato dos assalariados precários, dependente da Confederação Coreana dos Sindicatos (KCTU), dois dirigentes, na frente de uma faixa vermelha com a inscrição "Um outro mundo é possível", afirmam que "dos 13 milhões de pessoas da população ativa na Coréia do Sul, 8,5 milhões estão submetidas à jornada parcial, trabalho precário ou ocasional. Os que têm um trabalho fixo estão expostos à insegurança, flexibilidade, deslocalizações, assédio permanente e violação das leis sociais por seus patrões". Em nenhuma outra parte do mundo, a precarização do emprego, sob a pressão da globalização, atinge tamanhas proporções. "Entre uma empresa que dá a ordem e o assalariado que executa o comando", declaram os dois sindicalistas,"há às vezes sete níveis de intermediários. O operário não sabe exatamente para quem ele trabalha. A responsabilidade do principal beneficiário da produção se dilui em uma selva de intermediários. Em caso de problema, o assalariado ocasional está muitas vezes sem recurso, pois os sindicatos dos trabalhadores precários não são reconhecidos."
Às tensões sociais se agregam as inquietações ligadas à ameaça nuclear que faz rondar sobre a região o regime norte-coreano. Classificada pelo presidente dos Estados Unidos, Sr. George W. Bush, como um país do "Eixo do Mal", a Coréia do Norte, que detém armas balísticas de longo alcance e saiu, em janeiro de 2003, do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNT), declarou possuir várias bombas atômicas e ameaçou realizar testes nucleares para responder a ameaças de agressão estadunidenses. O ministro sul-coreano da unificação, Sr. Dong-Young Chung, em quem alguns vêem o sucessor, em 2007, do atual presidente Moo-Hyun Roh, e que acaba de viajar, em 17 de junho último, para Pyongyang, onde se encontrou com o presidente Kim Yong-Il, não está preocupado. "Em 1994, explica, quando passamos pela primeira ameaça nuclear, a Bolsa de Seul desmoronou em 36%! Hoje, apesar de a ameaça ser talvez mais séria, a Bolsa não oscilou. É a prova que as relações entre Seul e Pyongyang são sólidas e constituem uma garantia à segurança. As autoridades norte-coreanas exigem de Washington garantias. Pensam que os Estados Unidos querem derrubar seu regime. É para elas uma questão de sobrevivência. Dizemos à administração estadunidense que deve concentrar-se na desnuclearização da Coréia do Norte, e abandonar sua intenção de derrocar o regime. Isto porque a mistura dos dois objetivos é explosiva." O presidente norte-coreano, Kim Yong-Il, acaba de anunciar sua intenção de retomar as negociações sobre a desnuclearização, no quadro do Grupo dos Seis (Coréia do Norte, Coréia do Sul, China, Rússia, Japão, Estados Unidos), e indicou que seu país poderia reintegrar o Tratado de Não Proliferação, colocando um fim à ameaça nuclear. A bola está, a partir de agora, no campo estadunidense. O presidente Bush aceitará reduzir sua agressividade e seguir as recomendações de seu aliado sul-coreano?
(Trad.: João Alexandre Peschanski)