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A pretexto da luta contra a malária, um pequeno grupo de cientistas, apoiado por transnacionais e à frente de ONGs de mercado, procura reabilitar um inseticida para o qual existem, há muito, alternativas ambientalmente corretas
- (01/07/2006)
É a certidão de nascimento do movimento ecológico: já em 1962, o livro Silent Spring [1], da zoóloga Rachel Carson dava o alarme contra os efeitos devastadores do dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) sobre a fauna. Levou à proibição do uso do DDT na agricultura, nos Estados Unidos, e à tomada de consciência internacional dos perigos dos poluentes orgânicos persistentes (POP), que se acumulam ao longo da cadeia alimentar.
Com o ressurgimento da malária, alguns acalentam a esperança de uma desforra. Pois embora existam inseticidas biodegradáveis (piretros), o DDT continua a ser o produto mais eficaz e mais barato contra os mosquitos. Pelo menos, na opinião de seus defensores. A discussão ferve nas maiores revistas médicas, onde os debatedores se sucedem para condenar ou apoiar o tratado internacional sobre o uso dos POP [2]. Em seu último thriller, resolutamente anti-ecologista, Etat d’urgence [3], o romancista de sucesso Michael Crichton não hesita em afirmar – por intermédio de um personagem – que a proibição do DDT «matou mais gente que Hitler».
Estranhamente, os libelos publicados na imprensa e os relatórios citados a favor do DDT levam sempre a um pequeno punhado de signatários. Principalmente os senhores Amir Attaran e Roger Bate. O primeiro, um professor universitário com passagem por Harvard, ex-consultor dos Médicos sem Fronteiras tornou-se ... porta-voz das companhias farmacêuticas.O segundo co-dirige a Africa Fighting Malaria (AFM), uma «ONG com sede na África do Sul», militante pró-DDT. «Pela natureza do [seu] trabalho», a AFM é proibida de receber financiamentos «de governos, da indústria química [ou] farmacêutica». Seus patrocinadores incluem a companhia petrolifera ExxonMobil e o grupo de mineração AngloAmerican. Os mesmos pesquisadores-militantes pró-mercado são consultores de ONGs do mesmo quilate, como o Competitive Enterprise Institute, que recebe, com toda a independência, doações da Fprd, Philip Morris, Pfizer...
Tradução: Betty Almeida betty_blues_@hotmail.com
[1] Rachel Carson, Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1965.
[2] Convenção de Estocolmo sobre os poluentes orgânicos persistentes, em vigor a partir de maio de 2004.
[3] Michael Crichton, Etat d’urgence, Robert Laffont, 2006.