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Foi apenas nos anos 1970, e graças à pesquisa de uma dupla de jornalistas, que se esclareceu a responsabilidade pelo bombardeio em massa de Guernica — e se soube como a cidade viveu suas últimas horas
- (29/04/2007)
Uma das maiores fraudes midiáticas do século 20 deu origem à destruição da pequena cidade basca de Guernica. Ela foi devastada pela aviação alemã a serviço do general Francisco Franco Franco durante a Guerra Ciivil espanhola, em 27 de abril de 1937. A falsificação é comparável, em sentido oposto, à tramada pelos soviéticos no massacre de Katyn, onde cerca de 20 mil membros da elite polonesa foram executados na primavera de 1940. Em princípio, o extermínio foi atribuído ao exército alemão. Tempos depois, Mikhail Gorbatchev admitiu a culpa da NKDV, polícia política soviética, que agiu segundo ordens de Stálin.
Os franquistas imputaram o crime de guerra de Guernica aos republicanos. Essa teoria foi largamente difundida em todo o mundo pela mídia anticomunista da época. A polêmica confundiu muitas pessoas. Elas começaram a duvidar de tudo e a se perguntar em quem deviam crer.
Para acabar com as controvérsias, uma grande publicação norte-americana encomendou uma reconstituiição — minuto a minuto — das últimas horas de Guernica [1]. O jornalista investigativo britânico Gordon Thomas (autor de duas notáveis pesquisas: As armas secretas da CIA e a História secreta do Mossad) e Max Morgan-Witts foram incumbidos de fazê-la.
Eles não hesitaram em percorrer o mundo em busca de sobreviventes espanhóis e alemães. Redesenharam a cadeia de decisões militares e a narrativa verídica, histórica e indiscutível da tragédia. Explicitaram como o chefe do Estado maior alemão, Wolfram Von Richthofen, em total acordo com o general franquista Juan Vigón, pôs em marcha sua “estratégia do terror”. Em um movimentado dia, a pequena cidade basca de 7 mil habitantes foi devastada por bombas incendiárias. Desconsiderou-se a população civil.
Na história da guerra, Guernica teve um triste privilégio: foi a primeira cidade do mundo a ser destruída por um ataque aéreo. A técnica do “tapete de bombas” foi posta em prática. Durante a segunda guerra, essa técnica seria usada, pela Luftwaffe (força aérea alemã), para semear o terror por toda a Europa.
A apaixonante pesquisa resultou em uma formidável obra, que se lê como se fosse um suspense. Com razão, a imprensa norte-americana a considera “um dos grandes livros do século consagrado à guerra”.
Tradução: Leonardo Abreu
leonardoaabreu@yahoo.com.br
Nesta edição, sobre o mesmo tema:
Guernica, agonia de uma guerra Completam-se em 26 de abril setenta anos do massacre de Guernica por tropas da direita espanhola apoiadas por soldados nazistas. Durante quatro décadas, a autoria do crime foi ocultada: só a obra-prima de Picasso serviu como testemunha
[1] Les Dernières heures de Guernica (traduzido do inglês por Marianne Véron), Nouveau Monde, Paris, 2007, 320 páginas, 22 euros.