agosto 2001
EUA
O novo diretor do Departamento da Democracia e Direitos Humanos do governo norte-americano tem um currículo exemplar: mentiu, perante o Congresso, em 1991, e sua especialidade é ocultar massacres perpetrados por mercenários de extrema-direita
Apenas alguns dias após o ex-presidente Slobodan Milosevic ter sido extraditado a bordo de um avião da Otan – ou, para ser mais preciso, trocado por uma ajuda econômica – Eliott Abrams foi nomeado, pelo presidente George W. Bush, diretor do Departamento da Democracia, dos Direitos Humanos e de Operações Internacionais (Office for democracy, human rights and international operations). Não seria óbvio dizer que essa promoção, passada quase desapercebida pela grande imprensa, coincida com a nova era do direito, da moral e da ternura universal decantada pelos trovadores do Tribunal Penal Internacional.
Direito? Secretário-adjunto do Departamento de Estado no tempo do presidente Ronald Reagan, Abrams admitiu, em 1991, ter mentido, sob juramento, perante o Congresso norte-americano, omitindo informações sobre o apoio – ilegal – de Washington aos rebeldes dos “contra”, que lutavam contra o governo da Nicarágua. Para contornar a oposição por parte do Congresso, esse apoio a uma guerrilha declaradamente de direita foi parcialmente financiado através de uma venda de armas ao Irã, país que na época estava sob boicote norte-americano. O tráfico de armas e a mentira, que poderiam – e deveriam – ter provocado a destituição do presidente Reagan, limitaram-se a resultar em punições a alguns funcionários. Entre os quais, Eliott Abrams. Foi perdoado em 1992 por George Bush, pai do atual presidente.
Moral? O novo diretor do Departamento de Direitos Humanos foi, na década de 80, o cérebro da sangrenta política norte-americana para a América Central. Sua especialidade? Desmentir massacres. Como o de 767 moradores da aldeia de El Mozote em 1982, em El Salvador. Os assassinos pertenciam a um grupo paramilitar treinado pelos Estados Unidos em nome da luta contra o comunismo. Uma causa tão sagrada que, para Eliott Abrams, seus adversários só poderiam ser “víboras”.
Quando o entrevistamos, em fevereiro de 1995, num instituto de pesquisa conservador, o Hudson Institute, esse adepto confesso da direita israelense declarou que os palestinos não tinham “direito a um Estado”. Por outro lado, ele temia uma intervenção do presidente Clinton no Iraque. Por quê? “Porque não acredito que ele tenha a firmeza necessária para terminar.” Abrams também se mostrou favorável ao fim dos programas de ajuda às minorias desfavorecidas: “Em parte porque sou judeu. A comunidade judia tem 30% das vagas em Harvard; e só representamos 2% da população.” E, mais fundamental para ele, esses programas de discriminação positiva “exacerbaram as relações entre as raças”.
Com Eliott Abrams, os direitos humanos estarão em boas mãos. (Trad.: Jô Amado)