» A cultura do cancelamento e os impasses da esquerda
» Chile: o conturbado início de Boric
» Eletrobrás: por que rechaçar a privatização
» Pochmann: O fim da financeirização?
» O impasse da democracia e o dilema feminista
» Como o patriarcado engole a democracia
» Mario Vargas Llosa, Victor Hugo et « Les Misérables »
» Des médias en tenue camouflée
» Jénine, enquête sur un crime de guerre
» Le monde arabe en ébullition
» Au Proche-Orient, les partis pris de la Maison Blanche
» Les progrès du libéralisme économique à Sri-Lanka
» Le marché du blé pourra-t-il être codifié par un nouvel accord international ?
» Le président Marcos allié gênant et retors des États-Unis
» Lebanon: ‘Preserving the past in hope of building the future'
» The poisonous problem of France's nuclear waste
» Can Medellín change its image?
» Venezuela: a ‘country without a state'
» The urgent need to preserve Lebanon's past
» French troops forced to withdraw from Mali
Um violino, uma mulher sentada numa cadeira, silêncio. Yolanda Mukagasana depõe sobre o martírio de seu povo: "Contarei, todo o dia, o que eu vi. Quem não quiser escutar, será cúmplice."
- (12/05/2000)
Poderia o teatro confrontar o real? O Groupov, um grupo de teatro instalado na Bélgica, levanta o desafio confrontando-se com o genocídio cometido em Ruanda, em 1994. [1] Tudo começou por um sentimento de revolta e náusea de Jacques Delcuvellerie e Marie-France Collard com relação à indiferença com que esses acontecimentos foram recebidos na Europa. Em seguida foram cinco anos de trabalho, de pesquisa de documentos, de encontros com os sobreviventes do massacre, de viagens a Ruanda. O produto é o espetáculo "Ruanda-94".Uma criação coletiva, cinco autores, três dezenas de artistas, um trabalho musical excepcional, enormes marionetes e máscaras, dança e comédia musical. Maneiras de abordagem múltiplas para sugerir algumas reflexões.
Notas soltas de um violino, uma mulher sentada numa cadeira, silêncio. Yolanda Mukagasana depõe sobre o martírio de seu povo. Dominando a emoção, ela narra cada instante dos dias em que conheceu o inferno, em que viu serem mutilados e massacrados seu irmão, seu marido e seus três filhos. E conclui: "Contarei, todo o dia, o que eu vi. Quem não quiser escutar, será cúmplice. " Nenhuma lamentação patética, o sentimento íntimo da realidade dos mortos e o desejo de compreender. Para conduzir a entrevista, a senhora Bee-Bee-Bee, jornalista de televisão. A peça se constrói, então, a partir de um trabalho sobre imagens de vídeo, reflexão sobre a televisão, seus limites e suas manipulações.
Jacques Delcuvellerie, o diretor, reinventa o teatro político e questiona as responsabilidades. Nada a ver, entretanto, e apesar da força da denúncia, com o teatro de "agit-prop". [2] A música tradicional reinventada em cena pelo compositor ruandês Jean-Marie Muyango, a contínua criatividade do compositor Garret List, a cenografia muito despojada - tudo fala aos sentidos, tanto quanto ao intelecto, e coloca no coração do espetáculo a cultura ruandesa e suas mais profundas raízes.
Um espetáculo que possibilita ao espectador europeu apropriar-se do conteúdo humano de uma história humana e oferece ao povo ruandês um pouco de restauração simbólica. Apresentado em Liége e Avignon desde 1999, sob a forma de ensaio, o espetáculo foi recebido com entusiasmo no Teatro Nacional de Bruxelas. Em breve será apresentado em Villeneuve d’Ascq e na Alemanha, e depois em Marselha, durante o 18º Congresso do Instituto Internacional do Teatro - enquanto aguarda sua ida para Paris.
Traduzido por Rosana Fernandes.
[1] Ruanda 94, de Marie-France Collard, Jacques Delcuvellerie, Yolande Mukagasana, Jean-Marie Piemme, Mathias Simons; dirigido por Jacques Delcuvellerie.
[2] Teatro de agitação e propaganda política, de natureza marxista [Nota do tradutor].