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São 42 pequenas entrevistas. Profundas, às vezes. Deliciosas, sempre. Fui direto às minhas predileções e curiosidades.
- (19/10/2007)
Acabo de ler um livro com entrevistas/diálogos que a escritora Clarice Lispector fez com diversos amigos e conhecidos (Entrevistas, Editora Rocco, 2007). É comum, ainda mais nesses dias em que os repórteres chegam com perguntas prontas e às vezes pouco sabem dialogar sobre idéias com os entrevistados, que o ar da entrevista torne-se demasiadamente formal e sem paixão. Mas, nesse livro de Clarice Lispector, vamos encontrar uma entrevistadora que conhece a obra dos entrevistados, por eles tem amizade e amor, e com eles procura refletir o instante da criação, quando começa, por onde, quais os limites e intenções.
São 42 pequenas entrevistas. Profundas, às vezes. Deliciosas, sempre. Fui direto às minhas predileções e curiosidades. Deixei de lado cantores, pintores e atores que me dizem pouco até hoje. Octavio Paz, que não está no livro e desconheço se era da predileção ou amizade de Clarice, algumas vezes esforçou-se por mostrar a entrevista como um gênero literário. Nas suas obras completas, há um volume exclusivo, e excelente, dedicado às entrevistas, em que Paz reflete sobre temas e interesses diversos, com uma profundidade impressionante.
As entrevistas de Clarice têm perguntas sérias e profundas, muitas vezes respondidas com leveza e ironia – embora ela não desça de suas perguntas pessoais sobre o rigor de escrever e de onde vem o que se pensa e inventa. Comecei por Chico Buarque e Fernando Sabino. Segui com Érico Veríssimo, Jorge Amado, Antonio Callado, Ferreira Gullar, Tom Jobim, Lygia Fagundes Telles, Millôr Fernandes e Bibi Ferreira. As de Érico e Fernando Sabino havia lido, provavelmente em obras mais recentes, porque ainda estavam vivíssimas comigo.
O diálogo com Nélida Piñon – perguntas respondidas por escrito – promete refletir a dinâmica da criação literária e transforma a entrevista no modelo que Paz tanto acreditara. Pode até ser e, muitas vezes, é. Mas o tom despojado e leve das conversas, com o resgate dos desejos, das vidas e necessidades, dá a cada uma delas um prazer especial.
Meu conselho é de não começar pelo começo e, sim, seguir interesses e afinidades. Arrisque dar uma olhada naqueles por quem, aparentemente, nunca se viu ligado ou entusiasmado (às vezes – mas aí a vida é crua –, só às vezes, descobrimos novidades). Digo isso porque poucos de nós ouviram falar com entusiasmo da poeta Marly Oliveira. Clarice a eleva e ressalta. Depois, como não querer conhecer Marly?
Como são entrevistas para a imprensa e os leitores se interessam por miudezas cotidianas e rotinas perfeitas – e todos nós somos, então, leitores, nesse sentido –, Clarice também pergunta sobre sucesso, celebridade, viver da arte. Perguntas que nunca se combinam nas palavras das pessoas, com saídas mil, intercaladas pelo incômodo declarado de Clarice com a evidência de seu trabalho e a insegurança de não saber quem é, nem sua importância para todos nós.
Tudo isso é bom. No final, fui tocado por algo melhor. Clarice vai àquelas pessoas porque acredita que são gentis, amigáveis, boas de ter por perto. O que mais você quer na vida, Érico (Veríssimo)? Gente. E você, Nelson (Rodrigues)? Que Otto (Lara Resende) ligue para mim. Rubem (Braga), me dê seu depoimento? Gosto de estar com as pessoas. Sua introdução sobre Hélio Pelegrino, considerando-o homem íntegro e bom, desmantela qualquer um que pouco pensa na necessidade de, todo dia, ser melhor consigo e com as pessoas. “Qual é o traço marcante de Hélio? A tolerância, digamos, e um amor que ele distribui quase sem sentir, amor no sentido de amizade (...)”.
Ô livrinho bom de ler.